sábado, 19 de novembro de 2011

A casa caiu. A Mãe morreu. Está tudo.......






No dia 1 de Janeiro de 1980 estava num almoço de início do ano em Angra do Heroísmo, em casa de uns primos, quando ocorreu algo que nunca mais esquecerei na vida: um violento terramoto.
No meio de 40 pessoas aos gritos e com a casa a ser violentamente sacudida por uma força devastadora, o meu irmão João veio buscar-me e fomos os únicos a fugir daquela casa. Ainda hoje me lembro muito bem dos sapatos que usava porque ao descer a escadaria tinha dificuldades em acertar nos degraus. E eles eram bem grandes.
Nesse dia o meu irmão salvou-me a minha vida e manteve-me calmo até chegarmos a casa, que ficava a uma distância de 3 kilometros. Para lá chegarmos demorámos 5 horas.
 Ficámos sem luz, água, gás, telefone e tudo mais o que se pode imaginar. Sentíamo-nos sózinhos no mundo e que o fim poderia estar perto. Sem salvação.
O grau de destruição era absolutamente incrível. A noite trazia um silêncio assustador porque era apimentado com as contantes réplicas que de réplicas tinham pouco. Dormir naqueles meses foi quase impossível.
No meio desta desgraça toda, a policia em coordenação com a sociedade civil disponibilizou um espaço na esquadra a onde os cidadãos se podiam deslocar  para que ditassem mensagens para os seus familiares no exterior da Ilha. As mensagens eram emitidas via rádio.
Enquanto as pilhas do rádio tiveram energia as noites eram passadas com um olho aberto e um ouvido, também “aberto”, a ouvir estas mensagens de eram emitidas 24 horas por dia. Não se ouvia musica.
E não demorou muito a ouvir a mensagem mais memorável que ouvi na vida e da qual me lembro ou conto a um amigo sempre que eu ou ele pensa que está na pior situação do mundo. Ela ajuda a reposicionarmo-nos perante o problema.
A mensagem é: “da familia Silva para os seus familiares no Canadá; A CASA CAIU, A MÃE MORREU. ESTÁ TUDO BEM.

1 comentário:

  1. já passam quase 32 anos... e ainda está vivo na minha memória

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