Corria o ano de 1986 e travava-se mais uma batalha política em Portugal: a segunda volta das eleições para a Presidência da Republica disputada entre Diogo Freitas do Amaral e Mário Soares. Em Angra do Heroísmo, como em todo o País, a euforia era imensa. O país dividia-se em dois blocos.
No meu círculo de amigos a maioria era do CDS. Muitos deles inscreveram-se nessa altura da JC (Juventude Centrista), colavam cartazes com um fervor como nunca tinha visto. Eram incansáveis. Quando a vida nos apaixona acreditamos em tudo. Sentimo-nos únicos.
Quando me fui inscrever na JC tive um sentimento de um não. Por isso, decidi dirigir-me à sede do PSD para ver a jota laranja e não ter dúvidas sobre a decisão que ia tomar.
Quando lá cheguei também não fiquei lá muito entusiasmado com o que vi. Via miúdos como eu e que em adultos foram ou são um pouco de tudo: policias, porteiros, motoristas, advogados, coveiros, lavradores, jornalistas, médicos, contabilistas e por aí fora.
E o que interessa nesta nota foi um dos motivos que me fez decidir ser do PSD naquele dia: naquele momento senti-me bem no meio de muita diferença e tive curiosidade de os conhecer a todos, saber como pensavam, como viviam, que opiniões tinham sobre tudo e mais alguma coisa, como seria possível fazer um puzzle de tudo aquilo. Laranja fiquei desde então.
Depois de Cavaco e até Pedro Passos Coelho chegar ao governo, o PS esteve no governo durante 11 anos e o PSD 2 anos.
E como os excessos pagam-se caro, o PS pode até ser um dos pais da Liberdade mas foi o coveiro da nossa economia e modelo económico do pós 25 de Abril. Os slogans “as pessoas não são números”, “ há vida para além do deficit” foram uma das faces visíveis do gastar até não poder mais.
O PS chamou o FMI, ou assistência financeira internacional, 3 vezes desde o 25 de Abril. É um recorde absoluto quer pelo numero em si quer porque em Portugal mais ninguém os chamou. Ou seja, por razões diversas faliu o país 3 vezes. A última falência foi estrondosa. Não a vamos esquecer tão cedo. Porque vai ser paga por muito tempo.
O estado a que chegou o país é de uma mediocridade tal que até nos têm de dizer do exterior o que temos de fazer para irmos tendo dinheiro para sobreviver. É absolutamente extraordinário que desde o 25 de Abril nos tenhamos falido 3 vezes e ainda não saibamos o que temos de fazer para não termos de sujeitar os nossos compatriotas a esta treta de vida a que a política, não a economia, nos conduziu.
Quem gastou o dinheiro que não tinha, não cumpriu o que prometeu, fez o que não devia, não foi a economia.
O paternalismo político levou-nos ao abismo. E a nossa cobardia em punir quem prevaricou ajudou todos eles. Fomos cúmplices.
Não sei como vamos sair da crise nem se vamos. Não sei qual a receita certa. Mas pasmo com aqueles que nos afundaram a criticarem quem nos tenta salvar, bem ou mal. Ou seja, hoje vemos o cancro a dizer à cura que não vale a pena. Em vez de estarmos sempre a castigar a suposta cura devíamos liquidar o cancro mas isso parece uma coisa, como se diz em Portugal, muito complicada.
E apoio Pedro Passos Coelho por uma razão simples: entre morrer a fazer o que temos feito nas últimas décadas e que já se percebeu que não é solução e morrer a tentar novas soluções prefiro a segunda opção.
É um passo em frente seja qual for o resultado. É o montar de outro puzzle que muitos não ousaram testar com medo de poderem falhar ou não tiveram coragem.
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