Agosto de 1991. De férias na ilha da GRACIOSA em acampamento no parque de campismo no Carapacho. Foi a primeira vez que acampei num parque desta natureza e a última vez que acampei.
Ligo o rádio de manhã para ouvir a BBC (hábito que o meu Pai tinha de preferir esta rádio (quando Sá Carneiro morreu soubemos primeiro pela BBC do que pelos media de Portugal).
E começo a ouvir que tinha ocorrido um golpe de estado na Rússia e que tinham deposto o Presidente Gorbachev. Hesitei, mudei para a Rádio Horizonte e pude confirmar o que ouvia.
Saio da minha tenda e dirijo-me a uma mercearia no grande Carapacho, a uns 300 metros.
Quando olho para dentro do estabelecimento, está do outro lado do balcão o dono com os cotovelos apoiados no dito e com as mãos em cada bochecha a olhar para a vista igual a esta fotografia. Na altura ainda mais nítida.
Entre nós os dois está um telefone. Peço-lhe para ligar. Ele, muito ocupado, com as mãos no mesmo lugar abana a cabeça de cima para baixo em sinal de aprovação. Estamos a 30 cm um do outro. O gajo não se mexe.
Ligo ao meu Pai. Pergunto-lhe: O Pai ouviu as notícias? Responde que sim.
O gajo continua imóvel em todos os aspectos. Privacidade no Carapacho só mesmo debaixo de água.
Pergunto: O Pai acha de vão matá-lo?
Depois de terminado o telefonema, o homem estica-se, olha-me muito intensamente e pergunta-me:
Ò Senhor, morreu alguém na ilha Terceira?
Eh eh, vou-lhe explicar mas acho que ele não vai perceber. Respondo: Não, isto que falei ao telefone está a acontecer na Rússia. Afastaram o Presidente.
Ele desvia o olhar da minha cara, olha para as ilhas de São Jorge e Pico, levanta o braço esquerdo e diz: ah, na Rússia.........
Em 1991, como por estes dias, o interesse na Rússia é inversamente igual ao interesse da discussão pela aprovação do Orçamento.
E pelo nível da discussão parlamentar do orçamento percebemos que os Russos podem estar descansados que ninguém aqui vai querer mesmo saber o que eles querem ou não.
PS - Nesse dia na GRACIOSA, querendo muito falar com alguém sobre o assunto ainda vi o Francisco Louçã na praia mas a conversa que queria era outra.........
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